Thursday, October 06, 2005

Ciclo

A falta de interesse em relacionamentos estáveis é um processo cíclico, com data de início indefinida e sem um culpado inicial.

Todavia, a situação pode ser definida da seguinte maneira, com a possibilidade da troca dos gêneros. Os homens querem mulheres perfeitas (assim como as mulheres querem os homens perfeitos). Inteligente, bonita, sexy, tarada, boazinha, amiga entre outros adjetivos. De repente, tal pessoa aparece em sua vida, com um estalar de dedos. Você observa, fica reticente. Pergunta aos céus se aquilo existe de verdade, se não é uma ilusão de ótica (porque quem já viveu um relacionamento tende a criar um filtro). Mas existe, está lá, e a primeira coisa que você pensa é “opa, me dei bem”.

Ficam uma, duas, dez vezes. Começam a pensar que essa seria a pessoa que as mães sempre desejaram como nora (ou genro). Se começar um namoro, não há maior certeza do que a de que será algo estável. Você a busca na faculdade, a leva no cinema, ao bar, ao restaurante, à Lua. Sexo toda semana, sem faltas. E assim, a rotina começa.

É fato que as pessoas tendem a observar coisas diferentes quando caem em uma certa rotina. A repetição tende ao tédio, e não há pessoa conhecida que admire o tédio. Então, você começa a reparar como os amigos estão se divertindo, como estão alegres arrasando com o sexo oposto. Você sente falta daquelas cantadas infalíveis da noite, daquela olhada mais provocante, de todo aquele processo de sedução que você praticava antes de tudo acontecer. E, num piscar de olhos, você vê que não está pronto para isso, que não pode se enclausurar em um namoro.

Aquela pessoa que você tanto admirava se transforma em uma mala. Você começa a sentir nojo apenas do nome dela aparecer em sua tela de celular. Quando ela se aproxima de você, já há aquele suspiro mais longo, de arrependimento. Toda aquela balela de “estabilidade” vai pelo ralo. E, o que é pior: se ela não entende o quão ruim está, você faz questão de demonstrar isso. E a pessoa pensa com seus botões: “O que eu fiz de errado?”. Nada. Absolutamente nada. A culpa é exclusivamente sua.

Aí, aquela vidinha que você tanto odiava antes de tudo acontecer, retorna. Você está confiante de que vai arrasar na noite, de que irá adentrar um recinto onde todas as atenções femininas estarão voltadas única e exclusivamente para você. E, dessa forma, instaura-se a grande ilusão.

Daquele momento em diante, você começa a chegar em casa sozinho, após a noite, e questionar-se porque está tão insatisfeito. Talvez seja porque aquela pessoa da noite, aquela bonita, gostosa, misteriosa, cuja qual rolou beijos tão intensos e mãos tão inquietas que te davam a nítida impressão de que estariam fazendo sexo que nem coelhos (e que, talvez, tenha ocorrido de fato), sequer te deu o número do telefone. É o amargo gosto da frustração. E você começa a pensar naquela pessoa boazinha, aquela que você simplesmente queria que deixasse de existir há um tempo atrás. Enquanto isso, aquela pessoa, chateada, custa a entender o que diabos ela fez para te afastar. A dúvida vira angústia, que vira mágoa, que vira raiva. Ela blinda o coração. Fala que, a partir daquele momento, nunca mais entregará seus sentimentos. Começa a sair na noite e tomar a mesma atitude que aquela outra pessoa, aquela que sequer tem a bondade de te dar o número do telefone, toma. Decide que não há razão para se envolver, já que no final sempre haverá a chateação, a lesão, o chute. O monstro foi criado.

O tempo passa e nós continuamos na mesma. Sempre reclamando da vida e das pessoas. As mulheres ou homens só querem os cachorros(as). Não estão nem aí para aqueles que querem algo mais, ou seja, você mesmo. Mas, no final, você nem ao menos se lembra de que tudo isso foi culpa sua. Aquela mulher ou homem, vulcão da night, que pega 5 por noite, era a boazinha de outra mulher ou homem anteriormente. E assim sucessivamente. E você a perdeu para sempre: aquela pessoa que, antes era sua alma gêmea, agora está perdida por aí, enlouquecendo a cabeça de outras pessoas.

A questão fica no ar: é esse o mundo que você quer?

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